Incrementando a prateleira, ativos alternativos ganham força no mercado
Da virada do milênio até os dias atuais, o acesso ao mercado financeiro se capilarizou, gerando novas plataformas, investidores, especialistas e formadores de opinião. Para se ter ideia, já são quase 20 milhões de investidores Pessoa Física operando na B3, que teve um crescimento de base de 80% desde 2020¹.
Esse fenômeno não é responsabilidade somente do achatamento histórico da taxa de juros, levando investidores a ousar mais em suas escolhas, mas principalmente da tecnologia que facilita a operação e a comunicação. Inúmeras empresas construíram seus modelos de negócio alicerçados em soluções fintech para servir bem aos originadores, distribuidores e, claro, investidores. Imagine que antes, para investir em fundos, era preciso abrir uma conta em um banco gestor (muitas vezes bancos internacionais ligados aos nacionais), fazer um TED e receber seus certificados de cotas pelo correio. Algumas estruturas financeiras ainda continuam deficitárias em desenvolvimento tecnológico, principalmente na originação de ativos. Entretanto, a facilidade em investir se consolidou via XP, BTG, Genial, Warren, Avenue, Crowdfundings, Peer Landings, Crypto etc.
A cadeia de assessores de investimentos, corretores e analistas cresceu exponencialmente nos últimos 10 anos, facilitando ainda mais a entrada do varejo em posições antes reservadas aos especialistas. Em resumo, a evolução do mercado no Brasil é visível e louvável, porém algo ainda gera um empecilho na verdadeira democratização do capital: a pasteurização dos ativos.
As prateleiras de ativos disponíveis para investimento (com exceção de crypto) são muito homogêneas devido ao controle de originação. O ecossistema que gera as oportunidades é engessado, necessitando de uma cadeia complexa, que envolve instituição financeira, securitizadora, consultoria jurídica e muitos intermediários fazendo a gestão. Por essa razão, o custo operacional não permite a criação de ativos mais "tangíveis", sempre finalizando em alguma sigla como FIDC, CRA/CRI, CCB, LCA/LCI, FII etc.
Logo, a ponta da distribuição tem à disposição os mesmos produtos, oriundos dos mesmos originadores e, dificilmente, visualizam os ativos alternativos como uma opção de portfólio. E não visualizam porque eles sequer existem em um volume necessário.
Porém, esse cenário está prestes a se transformar. Ativos alternativos de dívida ou equity, focados em crédito para PMEs, ou a fragmentação de títulos inacessíveis ao varejo já é uma realidade em franca expansão. Todos os clientes white label da Divify, representantes de diversas indústrias (inclusive a financeira), conseguem com muita facilidade e diligência emitir ofertas que furam a bolha do mercado, criando oportunidades no setor imobiliário (investimento em uma incorporação específica), no setor de agribusiness (investimento direto em um produtor rural), no setor de comércio (investimento antecipação de recebíveis), em franquias (investimento em planos de expansão) e por aí vai.
Finalizando o raciocínio, os ativos alternativos são uma excelente opção para os assessores de investimento ofertarem às suas carteiras de clientes. Além de serem mais acessíveis financeiramente (fragmentados em cotas menores), pagam bem devido à desintermediação da cadeia complexa e são mais compreensíveis ao público geral: é muito mais fácil explicar para alguém um investimento direto em incorporação na Avenida Faria Lima (aquisição de uma cota) do que tudo que envolve um CRI ou FII.
A prateleira dos assessores de investimento ficará cada vez mais diversa, gerando uma segunda revolução no mercado de capitais.
¹Dados oficiais da B3.